No dia 24 de Novembro de 2006 sofri um enfarte agudo de miocárdio que, por pouco, não me custou a vida, com 33 anos era responsável de uma multinacional em Portugal, casado e com uma filha.”
Apesar de ter inúmeros fatores de risco potenciais para um acidente cardiovascular: fumador, vida sedentária, atividade profissional com algum stress, excesso de peso, não é, de facto, normal ter um enfarte aos trinta e poucos anos. Tanto não é normal que nem o INEM me quis levar ao hospital, alegando que estava a ter um ataque de pânico.
Apesar do meu pai ter morrido de ataque cardíaco com cerca de quarenta anos, sempre atribuí o meu enfarte a um infortúnio e a um azar. Não foi de facto um azar… As análises ao meu colesterol total na altura do enfarte detetaram valores na ordem dos 420 mg/dl, mas, mais uma vez, pensei que a minha alimentação na altura talvez fosse mais desregrada, ou qualquer coisa do género.
Em meados de 2007, recebo uma chamada de uma prima que não via há mais de 20 anos, perguntando se sempre era verdade que tinha tido um enfarte. Essa minha prima estava a ser seguida em Santa Maria num departamento de Doenças Metabólicas e, segundo ela, sofria de Hipercolesterolemia Familiar e eu, muito provavelmente, também sofreria. Na altura achei aquilo um palavrão e não percebi bem o que ela me estava a querer dizer. Fui a uma consulta no Hospital Egas Moniz com a Dra. Isabel Gaspar que me explicou que a Hipercolestrolemia Familiar é uma doença genética que faz com que os doentes apresentem valores de colesterol muito elevados desde a nascença, aumentando exponencialmente os riscos de uma doença cardio-vascular.
Fiz os testes e foi-me diagnosticada uma mutação genética que comprovou a existência da doença. Provavelmente o meu pai sofria do mesmo e nunca sequer nos apercebemos.
Entretanto, mudei o meu estilo de vida, passei a fazer exercício regular, uma dieta mais cuidada e medicação. Os meus valores atuais de colesterol total, mesmo assim, rondam os 170 mg/dl.
Tive mais dois filhos (são três ao todo) e a parte menos simpática é que, dado o histórico familiar, também eles fizeram análises. A mais velha tem 10 anos, o do meio 5 e o pequenino 2 anos. As probabilidades eram de 50-50 entre ter a doença ou não, e pouca sorte os três tinham valores de colesterol total na casa dos 300 mg/dl. Dieta rigorosa para todos e um estilo de vida saudável. Resultado: a hipercolestrolemia familiar é uma doença genética familiar que quando detetada pode perfeitamente ser controlada. A minha filha mais velha já tem de fazer medicação, e os outros, seguramente, também, logo que atinjam uma idade em que os riscos da medicação sejam diminutos no seu processo de crescimento e desenvolvimento.
A mensagem é que podemos ter um estilo de vida perfeitamente normal (hoje continuo com a mesma profissão e com responsabilidades acrescidas) e quem me dera que me tivessem detetado esta doença mais cedo. Provavelmente, tinha-me evitado um enfarte.”